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Vivo
com um feminista ferrenho. Este é o homem que casou comigo e que, para espanto
de todos, adoptou o meu último apelido no seu nome,
em último lugar, e depois fez aplicar a mesma regra no nome dos nossos filhos,
na simples constatação de que as mulheres também podem passar o seu nome pelas
gerações; não é território só dos homens.
Não minto também se vos disser que não sei há quanto tempo
não ponho roupa a lavar, ou no estendal, que há anos que não tenho nada a ver
com o caixote dos gatos, e que o cão também nem se lembra do que é ir comigo à
rua, ou que mesmo as minhas adoradas orquídeas, aquelas que coleccionava mesmo
antes de ser mãe, é ele quem cuida delas (deixo-o ser desarrumado à vontade,
acho que já não refilo tanto com a bagunça: pelo menos faço um esforço para não
me tirar do sério). Nunca me falou com maus modos (e todos temos dias maus eu
não posso dizer o mesmo, infelizmente já fui parva com quem só me fez bem ao
longo de quase dez anos) e só muito de vez em quando os nossos quatro filhos o
tiram do sério.
Sei que não inverteremos nunca os papéis. Ele é das
pessoas mais brilhantes e inteligentes que conheço, mas não tem absolutamente
nada a provar a ninguém e o feminismo não o pôs entre a espada e a parede. Eu
visto as calças (na verdade esta também é uma imagem parva porque eu quase
nunca visto calças) e ele, que também trabalha que se farta a partir de casa,
na profissão mais solitária do mundo, a de tradutor e revisor, cuida da
família, esse território outrora exclusivo das mulheres.
Sejamos
justos: o feminismo afinal não me tramou assim tanto.
Agora tenho duas gigantescas missões garantir que as três
filhas se sentem, como eu, capazes de ser e fazer o que bem lhes passar pela
moleirinha, mas, mais importante ainda, educar o meu filho a ser tão feminista
quanto o pai.
Nota
final muito importante: Na empresa onde trabalho no ofício
cada vez mais difícil da comunicação e da assessoria de imprensa, há quatro
colaboradores com quatro filhos. Há pelo menos um com três, e dezenas com o
casalinho piroso. Neste momento estão três bebés para nascer até ao final do
ano: um verdadeiro baby boom.
Somos uma empresa líder de mercado, posição que conquistámos e garantimos, pela
excelência dos serviços prestados pelos melhores profissionais. Eu e os meus
colegas temos um dos trabalhos mais exigentes e stressantes à face da terra, e
ainda assim esta empresa regista uma taxa de natalidade muitíssimo superior à
da média nacional. Alguma coisa corre verdadeiramente bem por aqui. O que é
essencial quando falamos de igualdade e oportunidades. Devo também ao meu
patrão e à segurança social portuguesa a possibilidade de, por duas vezes, ter
podido tirar oito meses de licença de maternidade, uma pausa longa e importante
no ritmo frenético, e que me permitiu ter a certeza que nasci mesmo para ser
mãe e dona-de-casa». Leia na integra.
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