sexta-feira, 13 de novembro de 2015

FERNANDO PESSOA | «Minha Mulher, A Solidão» | «CONSELHOS A CASADAS, MAL CASADAS E ALGUMAS SOLTEIRAS»





«Um livro que irrompe em papel de jornal, colados à mão, reúne os textos de Pessoa & heterónimos sobre as mulheres, o casamento, o amor e o desejo. Inspirados num verso do autor, o livro chama-se "Minha Mulher, a Solidão". Mas vamos também chamar-lhe, Conselhos a Casadas, Malcasadas e algumas Solteiras». +. Veja também na editora.

E de um artigo no jornal Observador:
«(...)
No prefácio, Manuel S. Fonseca afirma que “este livro quer ser a antologia” de todos os corpos que “Pessoa criou e dramatizou, em verso ou em prosa”, assinalando-se textos assinados por Pessoa e os seus heterónimos Álvaro de Campos, Bernardo Soares, Barão de Teive, Jean Seul, Henry More, António Mora “e até, corcunda, tuberculosa, e à janela, Maria José”.
O editor refere-se à obra como “dois livros em conflito, com textos e poemas completos”, referindo que “há um livro dominante que espelha o diálogo maior que o autor manteve com o, uma vezes exaltado, outras esmaecido, desejo pelo corpo feminino e com a trama que entretece a relação amorosa de um homem e de uma mulher”.
“O outro livro, selvagem, em papel, de jornal, rasga o livro canónico com seis cadernos panfletários, isolando e sublinhando excertos”, escreve Manuel S. da Fonseca, referindo que, “neste livro guerrilheiro, soltam-se velas à pederastia, a umas masoquistas espátulas em cruz, solta-se a loucura sádica de ser a cadela de todos os cães e, se isso não lhe bastar… Solta-se, enfim, a polimorfia amorosa que Fernando Pessoa poética e intelectualmente cultivou”».

E uma boa ocasião para se ler o verso no todo Minha mulher, a solidão -  tirado daqui:

Fernando Pessoa

Minha mulher, a solidão,

Minha mulher, a solidão,
Consegue que eu não seja triste.
Ah, que bom é ao coração
Ter este bem que não existe!
Recolho a não ouvir ninguém,
Não sofro o insulto de um carinho
E falo alto sem que haja alguém:
Nascem-me os versos do caminho.
Senhor, se há bem que o céu conceda
Submisso à opressão do Fado,
Dá-me eu ser só — veste de seda —,
E fala só — leque animado.
27-8-1930
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990). 
 - 179.


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