terça-feira, 17 de dezembro de 2013

MULHERES NA CULTURA | Maria Velho da Costa





A escritora Maria Velho da Costa já tem sido mencionada no Em Cada Rosto Igualdade, nomeadamente a propósito do livro  Novas  Cartas Portuguesas (ver coluna à direita). Agora foi distinguida com o Prémio Vida Literária APE,  um bom pretexto para vir para a nossa galeria «Mulheres na Cultura». Comecemos pelo retrato que dela se faz no JL de 11 do corrente mês de dezembro:


Como se pode ver, trabalhou  na Administração Pública, nomeadamente  na Cultura, aquando do Governo de Maria de Lurdes Pintasilgo. Foi nessa  altura que a conhecemos pessoalmente, claro que os seus livros já vinham de trás, e lembro algum  nervosismo ao estar-se perante «a escritora», e admirar como  se integrava como qualquer outra pessoa naquelas reuniões tão diversas. Mas aquele olhar era especialmente atento. Boas recordações. E voltemos ao prémio e, por exemplo, à intervenção  do Presidente da República:


Prémio entregue na Culturgest

«Entendeu a Associação Portuguesa de Escritores atribuir, este ano, o Prémio Vida Literária à romancista Maria Velho da Costa.
É uma decisão com a qual não posso senão congratular-me, interpretando o sentimento dos seus leitores e admiradores.
O percurso de Maria Velho da Costa, ao longo de quase meio século de publicações e de intervenção no nosso meio cultural, é de facto extraordinário.
Talvez não corresponda ao que vulgarmente se chama uma carreira.
Mas os verdadeiros escritores, como ainda há bem pouco tempo dizia o moçambicano Mia Couto, não têm propriamente uma carreira, pois continuam a vida inteira a experimentar «os mesmos receios e as mesmas preocupações», de cada vez que iniciam um novo livro.
Os escritores como Maria Velho da Costa não têm uma carreira, têm uma obra.
A sua história confunde-se com as histórias que nos deram através da palavra.
É nos livros que escreveram e nas personagens que criaram que está a sua identidade.
É por isso que nós falamos, a propósito de grandes escritores como Maria Velho da Costa, de uma vida literária.
O reconhecimento da obra de Maria Velho da Costa foi praticamente unânime, desde a publicação do seu primeiro romance, Maina Mendes». Continue a ler.

E continuemos   com a imagem  das três Marias,   um «ícone»:


E com este video - MULHERES E REVOLUÇÃO -  das Palavras Ditas de Mário Viegas, onde se diz  obra de Maria Velho da Costa :



Pode ler aqui em texto escrito, donde tirámos:


REVOLUÇÃO E MULHERES

1. RECONSTITUIÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO

Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas picam cebolas e descascam batatas. Elas migam sêmeas e restos de comida azeda. Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças. Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo. Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez. Elas esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem. Elas brigam nos mercados e praças por mais barato. Elas contam centavos. Elas costuram e enfiam malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas fazem. Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça. Continue a ler.



Por fim,  do que disse a escritora na cerimónia da entrega do prémio:

«Num discurso curto, que antecedeu o do Presidente da República, Maria Velho da Costa salientou que a literatura não é só a escrita, mas, igualmente, "o poder da palavra e o seu gosto, descrita ou dita por aqueles que a falaram, escreveram e inscreveram em nós um modo de ser para a escrita".

"A literatura é por certo uma arte, um ofício, com o seu tempo de aprendizagem, treino, de escuta incansável, mas também a palavra no tempo, na história, no apelo do entusiasmo do que pode ser lido ou ouvido, a busca da beleza ou da exactidão ou da graça do sentir", disse, antes de aludir ao carácter repressivo dos regimes totalitários.
"Os regimes totalitários sabem que a palavra e o seu cume de fulgor, a literatura e a poesia, são um perigo. Por isso queimam, ignoram e analfabetizam, o que vem dar à mesma atrofia do espírito, mais pobreza na pobreza", acrescentou». Leia mais.



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