A poesia está na rua II
Vieira da Silva, 1975
Cartaz editado pela Fundação Calouste Gulbenkian para celebrar o 25 de Abril
de 1974, inspirado em têmpera original de Vieira da Silva
105 x 79,5 cm
Col. FASVS
«O 25 de Abril foi dos momentos de máxima alegria da minha vida. Foram
dias que vivi em estado de levitação. Isso aliás aconteceu a muita
gente. E está dito no poema que escrevi: «Esta é a madrugada que eu
esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Em que emergimos da noite e do
silêncio/ E vivos habitamos a substância do tempo».
De facto fiquei em êxtase e foi como eu vivi. Mas ao mesmo
tempo foi uma ocasião perdida, de uma maneira terrível, talvez porque
não está na natureza das coisas cumprir aquilo que o 25 de Abril
prometia... É um pouco como a adolescência que tem em si imensas
possibilidades que depois se vão malogrando.
Há no entanto uma conquista positiva: estamos num estado
democrático – não há prisões políticas, não temos colónias, não somos um
povo colonizador, somos um povo que ajudou a criar liberdades e
independências. Apesar de tudo, há um serviço de saúde melhor. Há outra
atitude. Mas houve uma possibilidade de criar um tipo de sociedade
diferente que não foi possível, mas também porque ninguém quis, ou muito
pouca gente quis...»
Sophia de Mello Breyner
Sem comentários:
Enviar um comentário