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Apesar de toda a sua história de luta
contra a discriminação, a desigualdade e o poder instalado, o punk sempre foi
um meio onde o machismo garantia um lugar reservado tanto em cima do palco como
à sua frente. Mesmo mulheres como Siouxsie Sioux, Chrissie Hynde ou Lydia
Lunch, todas elas nascidas no e do punk, eram vistas por muitos como símbolos
sexuais em primeiro lugar e como artistas em segundo. O sexismo só começou a
ser fortemente abalado nos anos 90, com o surgimento do movimento riot grrrl,
casa para bandas como Bikini Kill ou Sleater-Kinney, que se atiraram à rispidez
e à economia dos três acordes, bem como à ideologia do-it-yourself, e os
aliaram a uma dose gigante de consciência feminista de modo a combater o
sexismo que grassava nesses tempos. É aí que se inspiram as Anarchicks,
quarteto que tem a particularidade de ser composto por quatro mulheres.
Mas, lá está,
isto não é ou não deveria ser particularidade alguma digna de registo. Por
oposição a serem uma «banda feminina», as Anarchicks insistem que façamos todos
a correção devida à sintaxe e nos passemos a referir a elas como «a banda»,
simplesmente «a banda». E, convenhamos, a primeira expressão é redutora; há na
sua música uma forte influência riot grrrl, naturalmente, mas Helena Andrade,
baixista do grupo, é perentória: «sou suspeita, mas gosto muito da música que
faço. E se fosse feita por gajos ia gostar na mesma!». Assinale-se a coerência:
não é «rock no feminino», é só «rock». E nós gostamos.
UMA QUESTÃO DE GÉNERO
Tal problema só
se resolverá, naturalmente, quando cada vez mais mulheres se chegarem à frente
e decidirem combater o estado de coisas. E as Anarchicks decidiram fazê-lo no
final do verão de 2011. Começaram por ser apenas duas Helena e a ex-vocalista,
Priscila Devesa, passaram a trio com a entrada da baterista Catarina Henriques
e, finalmente, tornaram-se numa «relação a quatro» quando a estas se juntou a
guitarrista Ana Moreira, tendo entretanto encontrado nova voz pela garganta de
Marta Lefay. (...).
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