Do Editorial:
«(...)
Ao longo dos últimos anos, a relação entre a investigação científica
e a prática profissional no domínio da intervenção e apoio a vítimas
de crime tem ganho um crescente protagonismo. Contudo, nem
sempre esta operacionalização é óbvia. Por vezes, deparamo-nos
com intervenções práticas desprovidas de cientificidade e construídas
apenas com base no saber prático, mas pouco sustentadas
do ponto de vista dos fundamentos teóricos que devem nortear a
intervenção. Por outro lado, é comum encontramos investigações,
que escrutinam o impacto da vitimação e as vítimas, que procuram
encontrar as motivações para a existência e manutenção de comportamentos
que produzem ou conduzem à violência mas que são,
no final, pouco impactantes na sua capacidade de alimentar ou
transferir o conhecimento adquirido para a prática e, mais grave,
são elas próprias (re)vitimizadoras.
Enquanto estrutura que apoia vítimas de crime, temos um papel
essencial neste equilíbrio e procuramos assegurá-lo no âmbito das
colaborações que estabelecemos: proteger as vítimas de investigações
“vazias” e “egoístas”, do ponto de vista da sua verdadeira
relevância para a prática. A investigação nem sempre serve os
interesses das vítimas. Este argumento, recorrentemente e infundadamente
utilizado em muitos pedidos de colaboração para estudos
e projetos de investigação pode ser, na verdade, falacioso.
Com efeito, muitas vezes, a participação das vítimas em recolhas
de dados para fins de investigação, pode lesá-las de forma tão irremediável
que quase poderiam configurar situações de revitimação
e vitimação secundária. Por esse motivo, tentamos ser criteriosos
na intenção de colaborar com a investigação, sem deixar que esta
intenção interfira com a nossa principal missão: apoiar vítimas de
crime.
Este número duplo da Miscellanea, à semelhança dos anteriores,
abre espaço a temas e estudos que consideramos relevantes para a
intervenção que preconizamos. (...)». Continue a ler..
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