Aquando do Congresso Arte e Género ? referimo-nos a Camille Morineau, uma das congressistas, e à exposição “Elles@centrepompidou” de que foi comissária. Na ocasião deu uma entrevista a Natália Vilarinho publicada agora na ArteCapital de Novembro e disponível aqui, e pode bem dizer-se que funciona como um prolongamento do Congresso. Começa assim:
NV: Afirmou numa entrevista, respondendo a uma questão relacionada com a exposição elles@centrepompidou, que “nos Estados Unidos pensa-se em arte feita por mulheres. Em França, nunca, não é um assunto, e se o assunto não existe, não há possibilidade de ser discutido”. Mas, por outro lado, afirmou mais tarde que o seu objectivo com essa exposição não foi produzir um evento feminista. Trazer a arte feita por mulheres para um plano em que possa ser discutido não é um assunto feminista?
CM: A exposição foi um evento feminista. O que tentei explicar nessa altura é que no contexto francês teria sido extremamente difícil apresentá-la como tal. A minha estratégia pode ter sido um pouco estranha, mas também interessante na medida em que consegui fazê-lo dizendo que queria expor mulheres artistas na diversidade da sua produção artística: muito poucas com obras de cariz feminista, mas muita arte abstracta… tudo o que tínhamos na colecção. Mas nunca disse que seria algo feminista porque o feminismo não era na altura um conceito fácil em França. Penso que agora as coisas mudaram um pouco, também graças a “elles“, mas naquela altura, até nas minhas conversas com o director do museu e com os meus colegas foi difícil apresentá-lo como um evento feminista, embora fosse! Apenas não foi dessa forma que “vendi” o projecto.
É difícil entender isto de fora, fui muito criticada, as pessoas disseram que eu não estava a ser radical o suficiente em relação ao feminismo, mas eu não podia mesmo sê-lo. A única forma de seguir em frente com a ambição, o âmbito e a duração deste projecto foi apresentá-lo como algo um pouco neutro, afirmando “OK, metade da nossa colecção não foi ainda mostrada porque são mulheres artistas e temos que ser mais precisos com aquilo que estamos a fazer, temos de ser justos e temos de mostrá-las juntas, porque isto nunca aconteceu e temos de ver o que poderá acontecer em termos de movimentos, história de arte e como poderá mudar o modo como olhamos para a história”. (...). Continue a ler.
Ao lermos a entrevista lembrámo-nos do livro A Arte Sem História de Filipa Lowndes Vicente, aliás,também conferencista no Arte e Género ?, de que escrevemos neste post.
Apetece terminar observando que são muitos as problemáticas em aberto a precisarem de investigação mas também a serem trazidas junto da generalidade das pessoas, de públicos, na circunstância, através de mais exposições e de outras iniciativas.
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