quinta-feira, 28 de julho de 2016

«AMÉRICA THE beautiful»




AMÉRICA, THE BEAUTIFUL

Relatos de Escritores Portugueses

Carla Baptista (org.)

«UM LONGO PASSEIO PORTUGUÊS POR UMA DAS MAIORES POTÊNCIAS DO MUNDO.


A América era longe e linda. Oferecia uma paisagem imensa e uma energia surpreendente aos viajantes portugueses que a conheceram entre finais do século XIX e a década de 1970.

Pelo olhar de Eça de Queirós, Jorge de Sena, Natália Correia, Joaquim Paço d’Arcos, José Rodrigues Miguéis e outros, percorremos clubes de jazz, a floresta de sequóias, universidades e jornais, drugstores e drive-ins, a fábrica de sonhos de Hollywood e os arranha-céus de Nova Iorque.

Este livro é o encontro de dois imaginários: o europeu e o norte-americano. Fala de pessoas, cidades, natureza e instituições, mas também discute valores éticos e políticos, a liberdade de costumes e de pensamento, os alicerces de uma sociedade materialista. Não faltam, claro, os grandes paradoxos: qual é a fonte da felicidade dos americanos? Como conciliam as noções de individualismo e de comunidade? Como se vive com a discriminação racial e a de... Leia mais.

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«No percurso de Natália Correia sucedem‑se os clichês das peregrinações aos Estados Unidos, que vemos repetidos em vários dos textos desta colectânea: os automóveis, adereços em per‑ pétuo movimento; as auto‑estradas e os arranha‑céus como símbolos da destruição sistemática da natureza; os night‑clubs, lugares de descoberta, mistura e excitação; as cafetarias e as dru‑ gstores, onde comer é uma festa visual e um tormento para o paladar e consumir se torna um gesto banal e democratizado; o néon dos anúncios publicitários que invade a noite com uma luz falsa; as mulheres que, apesar da beleza e da independência, não se libertaram da condição de oprimidas; as universidades onde se preparam as futuras gerações de empreendedores e a palavra circula livremente; o metropolitano, palco despudorado do melting‑pot norte‑americano ou, nas suas palavras, «aquela humanidade semi‑ nua, arquejante e mole como uma besta vencida pela própria força». 
Simone de Beauvoir percorreu em 1947 uma parte dos Estados Unidos, tendo escrito sobre essa viagem de quatro meses num «diário escrupulosamente exacto, reconstituído com a ajuda de algumas notas, de cartas e de recordações ainda frescas».6 Entre a «história do que lhe aconteceu» (a Simone de Beauvoir) e o «livro que sou eu» (de Natália Correia), que Mário Mesquita definiu como “anti‑ ‑reportagem”, por se tratar de um texto deliberadamente marcado pela subjectivação, existem traços comuns. Talvez a poesia «especificamente americana», ao mesmo tempo primitiva e moderna, tocasse mais fundo na alma da escritora francesa. Ela própria diz que na América tudo é festa, o coração bate mais depressa e os dias são curtíssimos. Mas o veredicto é idêntico: na hora da despedida, quando lhe perguntam se gostou, Simone de Beauvoir fica dividida: 
«não se passou um dia em que não me sentisse deslumbrada; nem um dia em que não me sentisse decepcionada». Segundo a escritora francesa, na América ninguém fica «sere‑ namente em casa à espera da morte, os homens julgam‑se pelos seus actos: para ser, é preciso fazer». O foco no resultado bruto e não no movimento do espírito, a pretensão de isolar a parte do todo, visível na especialização técnica e científica, a recusa em olhar o instante como um espelho do eterno, mergulha os ame‑ ricanos na abstracção dos objectos erigidos em ídolos e trans‑ forma a sua história num cemitério. Simone de Beauvoir conclui: «Os desportos, os cinemas, os comics oferecem à vida derivativos. Mas, para terminar, cai‑se no que precisamente se queria evitar: o árido fundo da vida americana é o tédio». Natália Correia formulou um juízo semelhante, talvez eivado de uma arrogância que Simone de Beauvoir procurou evitar»:  Na Apresentação - aqui.


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