O filme A UMA HORA INCERTA estreou recentemente, e sobre ele comecemos com uma entrevista do seu realizador - CARLOS SABOGA, uma verdadeira história de envelhecimento ativo - ao jornal i, donde o seguinte excerto:
« Ditou o tempo – noutras palavras: as circunstâncias – que não fosse realizador. Tanto o quis que nunca o foi, tanto o desejou que quando a altura chegou disse que se sentia velho. É para estas ocasiões que os amigos também servem: velhos são os trapos disse-lhe António Cunha e Teles, produtor do seu filme de estreia “Photo”, em 2012. Quer aí, quer sobretudo neste “A Uma Hora Incerta”, a ditadura é a imagem de fundo e a PIDE o saltimbanco do seu imaginário criativo. Correntes que sempre foi desamarrando, quer em miúdo, quando se colava a mulheres, que simulavam ser suas mães, para entrar sem bilhete no cinema; quer em jovem quando decidiu sair de Portugal – depois de duas vezes preso – à boleia de uma equipa de cinema francesa. Aos 79 anos, Carlos Saboga não abdica do que sempre foi: argumentista. Porém, se a vida lhe der licença, esperem-se mais filmes onde o seu nome é creditado como realizador.
(...)
Mais sobre este filme,
quando começou a pensar sobre ele?
Foi-me proposto pelo Paulo Branco que fizesse
um filme barato. Comecei logo a pensar no critério económico, portanto, reduzir
ao máximo os actores, o décor, tudo isso contribui para que a história venha
assim. É evidente que a história vem assim porque a PIDE, neste caso a PVDE,
faz parte da mitologia da minha adolescência. Os seus agentes impõem-se no meu
imaginário, tornou-se inevitável que estes estivessem lá.
Ilda, a personagem central é uma rapariga
bastante curiosa para a época...
As mulheres são esquisitas
[risos]. Tive namoradinhas na altura que sabiam muito mais do que eu, há uma
capacidade das mulheres de transgredir as regras... de uma maneira
particularmente corajosa. Ela própria é um bocado contraditória, tem um retrato
do Salazar à cabeceira. Mas aquelas personagens existiam, havia uma rapariga na
Figueira que era a Romana, que tomava banho nua quando não existiam turistas.
Ou seja, se as pessoas se documentarem vão perceber que há inúmeras personagens
mulheres licenciosas naquela altura, digamos assim. (...)».
Sobre o filme e a curta-metragem que lhe está associada:
A Uma Hora Incerta + Coro dos Amantes
- Ano de 1942. Apesar de viver sob o jugo de uma ditadura, Portugal é, para milhares de pessoas que tentam fugir da guerra que assola a Europa, uma espécie de paraíso. Boris e Laura são dois franceses que chegam a Lisboa para escapar à morte. O inspector Vargas, sentindo-se atraído por Laura, decide escondê-los no velho hotel onde vive com Marta, a mulher, e Ilda, a filha adolescente. Quando Ilda se dá conta da presença dos refugiados e da inclinação do seu pai pela jovem mulher, deixa-se levar pelo ciúme. Decidida a afastá-la do progenitor, está disposta a tudo para os expulsar das suas vidas...
Depois da estreia, em 2012, com "Photo", esta é a segunda incursão à realização de Carlos Saboga, conhecido pelos argumentos de filmes como "O Lugar do Morto" (António-Pedro Vasconcelos), "Matar Saudades" (Fernando Lopes), "O Milagre segundo Salomé" e "Amor de Perdição" (Mário Barroso), "Os Mistérios de Lisboa" (Raul Rouiz) ou "As Linhas de Wellington" (Valéria Sarmento). O elenco conta com a participação de Paulo Pires, Joana Ribeiro, Pedro Lima, Grégoire Leprince-Ringuet, Joana de Verona e Ana Padrão. Em complemento à sessão é também exibida a curta-metragem "Coro dos Amantes", de Tiago Guedes. Veja o trailer via jornal PÚBLICO
E do que diz o critico Jorge Leitão Ramos sobre o filme no semanário Expresso:
Quanto ao Coro dos Amantes, escreve Jorge Mourinha no Público: «Coro dos Amantes de Tiago Guedes, sagaz exercício estereofónico baseado numa criação do dramaturgo Tiago Rodrigues, que coloca um daqueles eventos que mudam uma vida visto em simultâneo pelas duas partes do casal que o vive (Isabel Abreu e Gonçalo Waddington)».
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