quarta-feira, 7 de novembro de 2018

INÊS HENRIQUES | «Depois de batalhar por direitos iguais para as mulheres, nos 50 quilómetros marcha, a “pequena” de Rio Maior só descansa quando garantir que vai estar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, a lutar pelo ouro»





Recortes e montagem da Entrevista de Inês Henriques à Revista E
do semanário Expresso de 3 NOV 2018





Outro excerto:


«(...)Mas bate o recorde do mundo com 4h08,26.
Pois. Isto foi em janeiro, mas a marca só foi certificada quase no final de maio de 2017. Havia muita gente a dizer que aquilo não valia nada, mesmo já depois de a IAAF certificar. Como eu não tinha feito o mínimo, 4h06, apesar de termos esse objetivo escondido porque permitia-nos estar no Campeonato do Mundo numa prova mista sem direito a nada (as mulheres podiam participar mas tinham de fazer o mínimo dos homens), pedimos à Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) para pedir à IAAF que eu, como recordista do mundo, fosse convidada para estar no Campeonato do Mundo. Achámos que era muito importante estar lá uma mulher. E se tinham posto em causa, portugueses e estrangeiros, o que eu tinha feito em Porto de Mós, eu queria estar onde o mundo inteiro ia estar e mostrar que era possível fazer aquilo. A FPA disse: “Esquece, eles não vão deixar.” Mas eu insisti: “Já há um não?” “Não.” “Então, pode haver um sim.” Antes de ir para estágio, o Jorge Miguel fez um plano de treino para 20 quilómetros e outro para 50 quilómetros e perguntou-me qual é que eu queria cumprir. Eu quis cumprir o de 50 quilómetros.
Porquê?
Porque preferia estar preparada e receber um não, mas também estar preparada caso recebesse um sim. Porque se eu fosse e não cumprisse, os 50 quilómetros femininos nunca mais entravam. É que eles colocaram as 4h06 porque pensaram que nenhuma mulher no mundo iria fazer aquilo. Pensaram, nós damos uma oportunidade mas elas não vão conseguir e não nos chateiam a cabeça. Esta foi a intenção da IAAF. Fiz esse pedido e quando fui ao Grande Prémio Internacional da Corunha falei com Damilano, presidente da comissão de marcha da IAAF, para ele me ajudar.
E ajudou?
Inicialmente não estava a perceber muito bem o que é que eu queria. Expliquei-lhe. Passadas umas semanas mandou-me um e-mail a perguntar se a FPA já tinha enviado o pedido. Disse que sim. Mas o pedido não estava a chegar às pessoas certas. Alguém estava a barrar. Ele foi-me dando indicações, que fui passando à FPA. Faltavam cinco semana para o Mundial e eu ainda não sabia de nada. Já tínhamos pensado, se a IAAF não nos permitir estar no Mundial, vai haver uma prova no início de setembro nos EUA, vamos aproveitar o treino na mesma e vamos aos EUA bater o recorde do mundo.
Não seria a mesma coisa.
Não. Mas era uma forma de bater o recorde do mundo. Por isso entrei em contacto com a americana Erin, a primeira mulher a fazer os 50 quilómetros, porque era ela e o marido que organizavam a prova. Ela falou com o advogado dela (Paul Demeester) e ele entrou em contacto comigo. Disse que me ia ajudar. Ele estava a tentar introduzir os 50 quilómetros, mas as atletas americanas não tinha marcas de relevo e eu tinha. A três semanas do Mundial recebo um e-mail do advogado a dizer que as mulheres no mundo que tivessem menos de 4h30 podiam estar presentes no Mundial, a prova seria ao mesmo tempo que a dos homens com direito a tudo, em termos de dinheiro, etc. (...)».
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Se puder, não fique pelos recortes acima, a entrevista mostra-nos uma história de vida forte, inspiradora, nomeadamente em defesa dos direitos das mulheres, e  de fazer «inveja» a muitos movimentos que mais mobilizam a comunicação social.


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