segunda-feira, 30 de julho de 2018

«tem de ter todo o mundo lá, livre, ou não o será»



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Um excerto:
«(...)
Atalhando, a miscigenação nasceu da violência em massa sobre mulheres indígenas e negras. E essa violência continua a a não ser largamente reconhecida em 2018, fora da academia e de núcleos activistas. Mas qualquer debate sobre miscigenação terá de partir daí, da origem. E qualquer debate sobre miscigenação que não parta da origem vai gerar equívocos, involuntários e deliberados. Aliás, gerar equívocos tem sido um método do não-debate.
A primeira violência colonial é a violência sobre o corpo das mulheres, no século XVI como em 2018. Desvalorizar a violência do que se passou com as mulheres no século XVI continua a ser uma violência para as mulheres de 2018 (e para quem quer que se interesse pela verdade). Uma forma de dizer: para quê usar a palavra violação, era assim que as coisas eram, esqueçam. Sim, era assim que as coisas eram, foi assim que as coisas foram durante séculos, é assim que as coisas continuam a ser em demasiados lugares do mundo, e é por isso é que têm de ser encaradas. Uma longa história da violência, paralela à história masculina das violências.
4. Da violência base da miscigenação no Brasil resultaram muitos milhões de pessoas. Tantos que a cara do Brasil continua a ser morena, apesar de todo o esforço oficial de branqueamento levado a cabo por governos brasileiros, com incentivos à emigração europeia, desde a véspera da Abolição da Escravatura, em 1888. O Brasil é índio, preto, branco, mulato, caboclo, cafuzo. É o resultado de toda essa história. E a Segunda Abolição, que Caetano sempre defendeu que era necessária — volta a dizê-lo neste filme —, tem de ter todo o mundo lá, livre, ou não o será. Não será abolição. E como ela é necessária (...)»

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