Leia na integra aqui. |
Excerto: «(...)O jovem jornalista apresentou na bilheteira
as suas credenciais, recebeu um bilhete,
entrou no átrio da grande sala, onde uma
considerável parte do público já estava
sentada, reconheceu, nos que ainda permaneciam,
conversando com agitação, cá
fora, escritores, artistas, intelectuais, políticos da oposição.
O espectáculo começou. Uma frágil mulher
ao telefone tentava, com amargura e impaciência,
religar os fios partidos de uma
vida. A sua voz era a voz da perplexidade e
da angústia da perda, a voz humana.
O jovem jornalista ficou fascinado por essa
voz que penetrava a consciência, plena de
verdade, matizada de cambiantes de cor,
veemente e contida, doce e amarga, alegre
e triste. O teatro, como então o imaginava,
como um acto real de transmissão que
proporcionava uma realidade superior,
onde as contradições se anulavam, impusera-se aos que presenciavam o ritual
e criara essa atmosfera de suspensão do
tempo que só os grandes actores tornam
possível. De súbito, subitamente de súbito,
o sórdido ataque explodiu. Os polícias,
vindos da casa do lado, tinham espalhado
pela sala frascos de um cheiro de vómitos
que anunciava a presença da peçonha que representavam. O público teve de abandonar
a sala. Tumulto. Gritos de protestos.
Impropérios. Frases indignadas. (...)». Continue a ler.
Maria Barroso e Augusto de Figueiredo em "Benilde ou a Virgem Mãe" de José Régio
(in site da C.M. de Vila do Conde)
Sem comentários:
Enviar um comentário