Já nos temos referido ao projeto OLHA. É de Valter Vinagre e conta com a participação da APAV. Agora está nos Açores, na Galeria Fonseca Macedo. Sobre o projeto Luisa Soares Oliveira escreveu no Ípsilon, do jornal Público, aquando da exposição na Cordoaria Nacional:
Vinagre expõe uma série sobre a violência
O texto do livro que
acompanha esta exposição de Valter Vinagre, assinado por Celso Martins, começa
com uma interrogação capital: “Como fotografar o silêncio?” E o que é certo é
que esse silêncio acaba por ser a grande companhia da violência, doméstica e não
só, que o fotógrafo escolheu para trabalhar nesta série que agora expõe na
Cordoaria Nacional.
Valter Vinagre, de facto, trabalha por séries, que tem exposto regularmente
desde finais da década de 80. Enquanto decorre esta exposição, inaugura uma
outra na Kgaleria de Lisboa, e está já a trabalhar num novo projecto que
incidirá sobre uma época histórica precisa. A temática da violência, e dos
sinais que esta deixa, levou-o a contactar a Associação Portuguesa de Apoio à
Vítima (APAV), que lhe abriu as portas dos refúgios para vítimas de violência
que existem por todo o país, Açores e Madeira incluídos. O resultado é um
conjunto magnífico de fotografias a preto e branco, que se distribui na sua
quase totalidade por uma das salas do primeiro andar do edifício da
Cordoaria.
(...)
Diz-se que a violência (doméstica ou outra; pense-se, por exemplo, no
bullying) provoca na vítima um sentimento de vergonha que resulta da total falta
de amor próprio e na consequente culpabilização por tudo o que se sofreu. Daí a
ocultação, primeiro de tudo aquilo que se passa entre as quatro paredes da casa,
depois das próprias vítimas em relação a uma sociedade que, apesar da lei que a
condena, ainda olha para estes casos como situações estranhas, alheias ou, pior,
sem importância. O ver, o “olha” para que o título da exposição remete, não é
apenas um imperativo moral, é também o efeito de uma mesma sociedade que muda,
embora a passos tímidos, a sua atitude perante um mal que lhe é transversal.
Valter Vinagre, embora não o diga nunca nos títulos que deu a cada imagem
(identificada por um lugar, uma data, e às vezes um nome feminino entre aspas),
conhece todas as histórias, sabe quem morreu entretanto, quem sobreviveu, de
onde vinha e o que fazia cada vítima, da professora universitária à imigrante do
Leste europeu. Este “olha” condensa-se nos olhos imensos, encimados por uma
ligadura branca, que permitem à única mulher devolver-nos um olhar
paradoxalmente cheio de dignidade. É a única vítima que o faz frontalmente,
restando-nos a nós, espectadores, imaginar a relação de confiança que o
fotógrafo com ela conseguiu estabelecer. Leia a critica na integra.
No Açores vai estar até ao dia 16.
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