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Já há sorrisos e saudades na plateia. Odete Santos sempre foi assim como deputada, de palavra solta e franca, muitas vezes uma ‘carta fora do baralho’ da contida bancada parlamentar comunista onde se sentou durante quase 27 anos. Saiu pelo seu próprio pé, renunciando a cumprir um mandato por se sentir “cansada” e com a sensação do dever cumprido. Na sua última presença no plenário, despediu-se com um “até amanhã, camaradas”, dito já em lágrimas e perante os aplausos gerais, vindos da esquerda até à direita. A emoção passou em força, nesse dia, pelo hemiciclo de São Bento. (...).
Jerónimo de Sousa não esteve em Setúbal, mas seria o primeiro a surgir no ecrã gigante instalado no Fórum Luísa Todi. Elogiou a sua velha companheira de bancada pela forma “espontânea, solta e irreverente” como atuava politicamente. “Uma mulher que tomou partido” e “uma figura ímpar”, resumiu o líder comunista. Surgiram ainda as vozes de Ilda Figueiredo e de Octávio Teixeira, filmados à frente da Assembleia onde todos trabalharam juntos, a elogiar a “força da palavra, a alegria natural, a confiança e a firmeza de carácter” de Odete Santos. Os camaradas de armas sabem que ela soube “conquistar a simpatia do povo”, recordando como, em manifestações públicas, muitas vezes os jovens gritavam “Odete, Odete” à sua passagem.
Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça do PSD no cavaquismo, daria a cara por mais uma dose de elogios à sua adversária política. “Firme e sem nunca fazer cedências”, tinham em comum o amor pelo Direito e como “ponto de encontro as poesias de Brecht”. O ex-governante fez-lhe as devidas vénias. Odete Santos reconheceu-lhe a coragem. “Conseguiram esta coisa espantosa de porem o Laborinho Lúcio a dizer bem de mim”, disse no discurso feito integralmente de improviso. “Hoje, posso reconhecer, que ele tem uma mente brilhante”, responde, devolvendo os cumprimentos.(...)
Ela, que fugiu muitas vezes da discreta conduta que o partido impõe, está de pazes feitas com tudo. Ainda estava no Parlamento quando aceitou integrar o elenco de duas peças de revista — “Arre Potter qu’é demais” e “Vá para fora... ou vai dentro” — em pleno Parque Mayer. “Sei que provocou escândalo, mas estive-me nas tintas para isso “, disse na altura. Arriscou idas à “Cinco para a Meia-Noite”, ora com Filomena Cautela ou com Nilton. Avançou em defesa de Álvaro Cunhal no concurso da RTP do “Melhor português de sempre”, que viria a dar a vitória a Salazar e um escândalo em direto de Odete Santos a denunciar “o branqueamento do fascismo”.
Foi sempre assim, sem papas na língua. Como quando participou no concurso “Dança Comigo”, na RTP. No júri, estava Ricardo Araújo Pereira, que deixou escapar a piada de que era a primeira vez que via um deputado suar. Odete Santos não gostou, replicou contra as “generalizações abusivas”. Em direto, o humorista teve de reconhecer que era “um palerma”. A deputada não desmentiu: “Foi você que o disse. Eu não o classificava como palerma”. (...)». Leia na integra.
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