segunda-feira, 5 de setembro de 2016

AINDA MARIA ISABEL BARRENO | «A literatura como voz do feminino»

Leia aqui.


Um excerto do artigo, da autoria de António Guerreiro;


«(...)
 Em Maria Isabel Barreno, essa escrita feminina, se aceitarmos os termos e os pressupostos desta designação, pode ser encontrada numa ficção onde se constrói um universo imaginário e onírico, tendencialmente fluido, o qual, sem grande rigor, podemos aproximar do lirismo. A preponderância das vozes e das personagens femininas, definindo o lugar de onde se fala, é uma questão essencial em toda a sua escrita e, muitas vezes, surge anunciada logo no título do livro, como é o caso de um dos seus romances mais representativos, Inventário de Ana (1982).
Este livro põe também em prática uma construção alegórica que é muito importante na obra da autora. Na verdade, não é ancorada numa escrita do realismo social – muito embora projectando-se necessariamente nesse horizonte, como não podia deixar de ser numa escrita que também procura ter um papel de intervenção  que Maria Isabel Barreno desenvolveu a sua ficção feminista. Por isso, as formas da alegoria e até do fantástico intervêm com alguma frequência. Muito embora possamos dizer que experiências literárias como as do nouveau roman francês não lhe foram estranhas (e sem referência a elas não podemos caracterizar convenientemente a sua escrita), não foi uma “formalista”, foi até bastante convencional, nesse aspecto. A preocupação maior da sua escrita foi sempre de ordem temática e conteudística. Ela foi criadora de uma grande plêiade de personagens femininas, que se tornaram vozes de quem, remetido para um lugar subalterno, estava limitado ou até impedido de falar em nome próprio, isto é, em nome da condição social e existencial de mulher. E, enquanto investigadora, a escritora fez um trabalho paralelo à sua obra de ficção: a condição e as representações sociais da mulher foram um dos seus campos de interesse, como podemos perceber pela sua participação num livro colectivo de 1968, A Condição da Mulher Portuguesa, e num estudo que publicou em1976, A Imagem da Mulher na Imprensa».


Sem comentários:

Enviar um comentário