segunda-feira, 13 de maio de 2019

O LIVRO QUE LEVOU NATÁLIA AO TRIBUNAL | «Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica»






«Depois de ver sucessivos livros seus apreendidos pela Censura do Estado Novo, Natália Correia aceitou o convite do visionário editor da Afrodite, Fernando Ribeiro de Mello, para organizar esta Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica. «Finalmente num único livro», prometia a cinta que acompanhava o volume, publicado em dezembro de 1965, «a poesia maldita dos nossos poetas», «as cantigas medievais em linguagem atualizada», «dezenas de inéditos» e «a revelação do erotismo de Fernando Pessoa». A obra causou escândalo e foi apreendida pela PIDE, com vários dos intervenientes julgados e condenados em Tribunal Plenário, num processo que se arrastou durante anos. É agora republicada pela primeira vez com as ilustrações originais de Cruzeiro Seixas, incluindo também novos textos introdutórios e reproduções de documentos que contextualizam um marco histórico na edição em Portugal». +.

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Sobre a obra, no Semanário EXPRESSO /Revista E desta semana o trabalho de José Mário Silva «O livro que levou Natália ao tribunal». Pode ser lido aqui. Começa assim: 

«Uns meses antes, a recém-criada Afrodite, de Fernando Ribeiro de Mello (um portuense de 23 anos que chegara a Lisboa com fama de excêntrico diseur de poesia), lançara a primeira de muitas pedradas no charco do mundo literário português: uma edição do “Kama Sutra”, logo proibida. Enquanto gesto provocatório, funcionou às mil maravilhas. Mas foi com o livro seguinte, lançado em vésperas do Natal de 1965, que a Afrodite testou verdadeiramente a rigidez do establishment e o funcionamento da Censura. Natália Correia, que já vira os seus livros de poesia e teatro proibidos, organizou uma monumental “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica — Dos Cancioneiros Medievais à Actualidade”, com 552 páginas, abrangendo sete séculos e meio de versos do mais puro vernáculo. Das cantigas de escárnio e maldizer aos experimentalismos de E. M. de Melo e Castro, passando por Nicolau Tolentino, Bocage, Guerra Junqueiro, vários anónimos, Mário Cesariny, Jorge de Sena, Herberto Helder ou a própria Natália, cabia tudo. Na cinta promocional, não se fazia a coisa por menos: “Finalmente num único livro: a poesia maldita dos nossos poetas; as cantigas satíricas medievais em linguagem atualizada; dezenas de inéditos; a revelação do erotismo em Fernando Pessoa”. (...)»

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