quarta-feira, 1 de junho de 2016

PORQUE HOJE É DIA MUNDIAL DA CRIANÇA | 1 JUNHO | «Eu só tive infância»



Resenha

«O poeta Manoel de Barros um dia pensou em publicar três livros. Um que tratasse da infância, outro da mocidade e mais um sobre a velhice. Depois que escreveu os primeiros poemas e os publicou, no entanto, percebeu que não seria capaz de tratar outros dois assuntos. E ele explicou a razão com palavras muito simples e poéticas, como é seu costume. Disse: “Eu só tive infância”. Memórias Inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros reúne os versos das três infâncias do autor. O estilo único do poeta se completa com as iluminuras de Martha Barros, sua filha e pintora. O resultado é um livro que se lê e relê sempre com o prazer e encantamento». +
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« Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há de ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava. Pombada contava aos meninos de Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na fuga apressada do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles buracos. Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e enxada às costas a cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. Hoje encontrei um baú cheio de punhetas».
Manoel de Barros
Memórias inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros, São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 67
Tirado daqui, onde se pode ler mais.



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