Comecemos por assinalar o livro da imagem, como se pode ver é de Jack Halberstam que, entretanto, esteve em Portugal, na
Culturgest, para a conferência «No
Church in the Wild: A Estética da Anarquia». «Jack Halberstam é Professor de Estudos Americanos e Etnicidade, Estudos de Género e Literatura Comparada na University of Southern California. Publicou Gothic Horror and the Technology of Monsters (1995); Female Masculinity (1998); In A Queer Time and Place (2005); The Queer Art of Failure (2011) e Gaga Feminism: Sex, Gender, and the End of Normal(2012). Uma das mais destacadas vozes da teoria queer, Halberstam prepara um novo livro, The Wild, sobre anarquia queer, performance e cultura de protesto». Teve uma conversa com Natália Vilarinho agora publicada na ArteCapital, e de lá o seguinte excerto:
«AC: Então temos de deixar os pequenos grupos que formamos: “queer”, “lésbicos”…
JH: Sim, temos de os deixar. Nem sempre acreditei nisso e no passado investi realmente muito nas políticas de identidade, mas sinto que neste momento, coisas como o slogan do 1% e dos 99% (“We are the 99%” slogan do Occupy Movement), é o tipo de slogan que diz “há muitos de nós e poucos de vós, algo pode ser feito aqui”. É uma forma de ver se conseguimos encontrar coisas que nos liguem a uma maioria. Mas a política de identidade é também uma estratégia neo-liberal para dividir os interesses e os objectivos das pessoas».
(...)
AC: Há um momento em que afirmas que há uma diferença entre imitar e transformar a masculinidade. Podes explicar esta diferença?
JH: Bem, se eu estou a imitar a masculinidade, então acredito que a masculinidade é uma propriedade do homem e estou a imitá-lo, mas se eu acredito que a masculinidade está em mim, então é a minha masculinidade, e não estou a imitar ninguém. Foi esta a ideia do “Gender Trouble” da Judith Butler, que disse: “não há originalidade, o homem está a copiar a masculinidade tanto como tu”, e de facto pelo menos tu sabes que a tua masculinidade, dentro dos standards da cultura em que vives, não é vista como original, mas o homem não. O homem biológico acredita que a sua masculinidade é real e verdadeira, por isso a masculinidade queer é uma masculinidade muito mais estruturada, precisamente por reconhecer que não é autêntica.
AC: Então não podemos dizer que cada um de nós tem em si uma masculinidade.
JH: Não necessariamente, mas vivemos um mundo com géneros binários, somos todos uma combinação estranha das nossas identificações, da nossa socialização e das nossas propriedades físicas, mas eu não faria uma afirmação universal a dizer que somos isto ou somos aquilo».
Talvez se possa acrescentar: tudo em progresso !
«Kerstin Drechsel, Pussy Riot Gruppe · Cortesia da artista e Galeria Vane (pormenor)»
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