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Excertos do trabalho de Isabel Lucas, de 2016, mas a nosso ver intemporal, que nos leva à leitura dos livros visados no artigo:
«(...)
Tem um cheiro doce e quente, uma nostalgia sublinhada pelas cidades que se esvaziam, tem um tédio que parece eternizar-se, sombras que escondem o interdito, o magnetismo do sol, da nudez, a sensação de que há sempre tempo, e a imagem da infância onde esse tempo parecia não acabar (...).
Agosto surge como metáfora de felicidade por oposição a uma névoa onde a história é montada e se desenvolve. É uma ideia que atravessa muitos destes livros. Agosto é a palavra que o inconsciente associa ao deleite. O que o escritor faz com essa ideia de partida é construir a sombra (...).
« “O mar marulha brandamente nas restingas da barra que nós transpomos sem ondulação sensível”, escreve sobre o dia em que foi ver a esquadra inglesa à baia de Lagos. “Dão-me no peito nu os primeiros raios de sol, que eu esperava erguido à proa do bote, e atiro-me à água onde mergulho de olhos abertos, em voluptuoso torvelinho de prata lactescente. Tenho a ilusão de uma possível metamorfose, seguindo sem esforço o rastilho escumoso do bote, com arrancos de golfinho, pelo lençol da água esverdinhada onde todo o meu corpo se imbebe de fresquidão.” (...)
Essa determinação perturba-a tanto quanto a liberta na sua condição de mulher. O’Brien descreve essa aventura com sentido de humor e do ridículo numa previsível sucessão de frustrações, as de uma mulher a tentar reencontrar-se. Uma amiga, Denise, acredita que Agosto é o mês para isso. “Agosto é um mês malvado”, responde-lhe Ellen depois do regresso da Riviera».
Dois dos livros referidos no artigo:
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