sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

«Maria do Céu Guerra é a primeira mulher distinguida com Prémio Vasco Graça Moura»





«(...) A atriz e encenadora foi a personalidade escolhida "por se ter destacado, ao longo da vida, numa prática de cidadania cultural, enquanto atriz, que levou à cena e por diferentes modos divulgou os grandes textos da literatura portuguesa e, nessa intervenção, que manteve em A Barraca como núcleo de irradiação cultural, formativo e vocacionado para a descoberta e criação de novos públicos", segundo o júri, ao qual presidiu Guilherme d’Oliveira Martins. (...)».
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Uma boa ocasião para ler ou reler esta entrevista de Anabela Mota Ribeiro.De lá este excerto:

« (...)De que é que tem medo? De falhar? Desapontar?
Não é bem desapontar. No princípio, quando era miúda, tinha medo da opinião dos outros. Tinha sobretudo medo de ser mal entendida. De ser entendida como uma pessoa superficial. As meninas que iam para o teatro eram tontinhas...
E galdérias. Havia esse rótulo. Numa sociedade puritana como aquela em que cresceu isso importava.
Importava muito. Eu sentia que não tinha um desafio intelectual com pessoas do meio [teatral]. E na minha universidade, as pessoas de sempre iam aprendendo mais, ganhando saberes, apetências, caminhos que se separavam do meu. Tinha medo que a minha evolução ficasse por ali. Quando cheguei ao teatro dizia-se: “Estás a querer trabalhar para o público ou para a crítica?”. Era muito frequente, nos meios teatrais, especialmente as mulheres, dizerem: “A Ângela Pinto foi a maior actriz portuguesa e mal sabia ler.” Eu não queria ser a Ângela Pinto.
Quem é que queria ser? Estou a perguntar pelas referências, antes mesmo de perceber que queria ser a Maria do Céu Guerra.
Houve pessoas que me marcaram bastante na juventude. A Carmen Dolores. Era uma actriz que tinha biblioteca. Das poucas que tinham biblioteca. E que emprestavam livros. Depois conheci outras pessoas assim. A Glicínia Quartin. O Augusto Figueiredo, que gostava de ler Dostoiévski. Eu tinha medo que não fosse possível ser assim. Eu tinha medo que fosse obrigatório ser tão instintivo quanto inculto.
Como se o talento devesse ser um génio por domar?
Sim. Depois percebi que não, que não devia ser instintiva e inculta. Como é que começámos?
(...)»
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E, claro, parabéns à Maria do Céu Guerra, por tudo, e em particular pela CIDADANIA CULTURAL que por aqui há muito lhe reconhecemos e admiramos.



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